O sentimento oriundo da submissão entre o servo e o
senhor feudal transformou-se no que chamamos de vassalagem amorosa,
simbolizando assim, um amor cortês. O amante vive sempre em estado de
sofrimento, também chamado de coita, visto que não é correspondido. Neste tipo de cantiga o trovador
destaca todas as qualidades da mulher amada, colocando-se numa posição inferior
(de vassalo) a ela.
As cantigas de amor reproduzem o sistema hierárquico na
época do Feudalismo, pois o trovador passa a ser o vassalo da amada (suserana)
e espera receber um benefício em troca de seus “serviços” (as trovas, o amor
dispensado, sofrimento pelo amor não correspondido).Ainda assim dedica à mulher
amada (senhor) fidelidade, respeito e submissão. Nesse cenário, a mulher é tida
como um ser inatingível, à qual o cavaleiro deseja servir como vassalo; ele
tenta de todas as formas a convencer da
necessidade que ele tem de vê-la e tê-la ao seu lado.
Temos como exemplo a catiga da Ribeirinha tida como uma
das cantigas mais antigas, de que se tem registro, escrita por Paio Soares de Taveirós por volta de
1189.
Cantiga da Ribeirinha
No mundo non me sei parelha,
entre me for como me vai,
Cá já moiro por vós, e - ai!
Mia senhor branca e vermelha.
Queredes que vos retraya
Quando vos eu vi em saya!
Mau dia me levantei,
Que vos enton non vi fea!
E, mia senhor, desdaqueldi, ai!
Me foi a mi mui mal,
E vós, filha de don Paai
Moniz, e bem vos semelha
Dhaver eu por vós guarvaia,
Pois eu, mia senhor, dalfaia
Nunca de vós houve nem hei
Valia dua correa.
Paio Soares
de Taveirós
Vocabulário:
Nom me sei parelha: não conheço ninguém igual a mim.
Mentre: enquanto.
Ca: pois.
Branca e vermelha: a cor branca da pele, contrastando
com o vermelho do rosto, rosada.
Retraya: descreva, pinte, retrate.
En saya: na intimidade; sem manto.
Que: pois.
Des: desde.
Semelha: parece.
D’haver eu por vós: que eu vos cubra.
Guarvaya: manto vermelho que geralmente é usado pela
nobreza.
Essa cantiga de Afonso Fernandes mostra algumas
características de incorrespondência amorosa:
“Senhora minha, desde que vos vi,
Lutei para ocultar esta paixão
Que me tomou inteiro o coração;
Mas não o posso mais e decidi
Que saibam todos o meu grande amor,
a tristeza que tenho, a imensa dor
que sofro desde o dia em que vos vi.”
Nessa 1ª estrofe o trovador expressa o que sente em forma de
súplica, a mulher que ele conheceu está sendo idealizada e assim ele se declara
a ela, ele expõe os argumentos que justificam sua desgraça.
Atualmente são comuns as çanções que trazem em suas letras a
não correspondência amorosa, o figura do homem que se apaixona e dedica sua
vida em prol da mulher amada.As refer~encias a vassalagem já não são tão
comuns, orém a idealização da mulher e a busca pr argumentos que provem o amor
e a necessidade de ambos ficarem juntos é muito pertinente em muitas canções
Temos como exemplo uma música do cantor Luan Santana, que é
um sucesso nacional e têm idéias e estruturas parecidas com a da cantiga de
amor acima:
Amar Não É Pecado
Eu não sei
De onde vem
Essa força que me leva pra você
Eu só sei que faz bem
Mas confesso que no fundo eu duvidei
Tive medo, e em segredo
Guardei o sentimento e me sufoquei
Mas agora, é a hora
Eu vou gritar pra todo mundo de uma vez
Eu tô apaixonado
Eu tô contando tudo
E não tô nem ligando pro que vão dizer
Amar não é pecado
E se eu tiver errado
Que se dane o mundo
Eu só quero você
Podemos fazer a mesma comparação entre a Canção de amor de D
Dinis e a música "Pedido de casamento"
Canção de Amor – D. Dinis
Quero à moda provençal
fazer agora um cantar de amor,
e quererei muito aí louvar minha senhora
a quem honra nem formosura não faltam
nem bondade; e mais vos direi sobre ela:
Deus a fez tão cheia de qualidades
que ela mais que todas do mundo.
Pois Deus quis fazer minha senhora de tal modo
quando a fez, que a fez conhecedora de todo bem e de
muito grande valor,
e além de tudo isto é muito sociável
quando deve; também lhe deu bom senso,
e desde então lhe fez pouco bem
impedindo que nenhuma outra fosse igual a ela.
Porque em minha senhora nunca Deus pôs mal,
mas pôs nela honra e beleza e mérito
e capacidade de falar bem, e de rir melhor
que outra mulher também é muito leal
e por isto não sei hoje quem
possa cabalmente falar no seu próprio bem
pois não há outro bem, para além do seu.
Convite de casamento
Composição: Lourenço e Lourival
Ao receber o convite do seu casamento
Desmoronou meu castelo de sonhos ao vento
Nao pude crer que de você partiu essa maldade
Será que esqueceu que quem te, mas sou eu
Meu amor é verdade.
Eu lhe perdoo por dizer que seu pai é o culpado
Pois ele foi sempre contra o nosso noivado
E deu sua mão para outro no gesto apressado
Para nao permitir fosse ser mais feliz ao meu lado
Sem seu amor sou o homem mais pobre da terra
Sem carinho a vida se encerra
Sem seus beijos nao posso viver
O seu amor nesta vida é tudo que quero
Acredite meu bem sou sincero
Sem você sou capaz de morrer