As cantigas de escárnio e maldizer trazem à era medieval
as primeiras experiências satíricas da literatura portuguesa, carregadas de
críticas e observações a respeito de todos os aspectos culturais e morais da sociedade, elas se destacam por deixar aflorar os mais diversos sentimentos, fugindo dos
modelos impostos que muitas vezes engessavam a poesia na época.
Tais cantigas fazem uma critica indireta à
pessoa satirizada; apesar da “zombaria” o alvo de tal crítica não e revelado e os termos pejorativos e agressivos
não são utilizados com tanta frequência.
Já na literatura brasileira temos Gregório de Matos como
um grande autor no gênero satírico, sendo denominado “boca do inferno” por não
medir palavras irônicas para expressar seus sentimentos e inconformidades,
analisemos uma de suas cantigas:
A cada canto um grande conselheiro.
que nos quer governar cabana, e vinha,
não sabem governar sua cozinha,
e podem governar o mundo inteiro.
que a vida do vizinho, e da vizinha
pesquisa, escuta, espreita, e esquadrinha,
para a levar à Praça, e ao Terreiro.
Muitos mulatos desavergonhados,
trazidos pelos pés os homens nobres,
posta nas palmas toda a picardia.
Estupendas usuras nos mercados,
todos, os que não furtam, muito pobres,
e eis aqui a cidade da Bahia.
Atualmente têm se destacado Juca Chavez como um dos autores
contemporâneos de sátiras e cantigas de escárnio:
Atraso Ou Solução
Juca Chaves
Já meia hora atrasada
o que em ti é natural.
Até pareces, querida,
com os nossos trens da central
isto ainda acaba mal.
Não brinques assim comigo,
com este teu vem ou não vem,
não faças de estação meu coração,
nem faças o teu de trem, tá bem?
Ai, ai, amor, ai que dor
eu sinto o ar esperar
até a chuva já veio,
mas não vens, ai, por que?
quem me dera, minha amada
se tu fostes viatura
cá da nossa prefeitura
pois te dava uma pedrada
muito bem dada
Podemos perceber que ambos fazem críticas, um a mulher e
outro a uma cidade, porém o
gênero está presente nas cantigas o que destaca o força
da sátira desde a época medieval.
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